Nas alturas da serra
No Nordeste do Rio Grande do Sul, uma série de cânions belíssimos, abismos que parecem cortados a faca, de tão vertiginosos
BRASIL, São José dos Ausentes - RS
Autor: Luiz Maciel
Foto: São José dos Ausentes (Foto: Revista Unquiet)
22/07/2022
Pouco mais de 30 quilômetros separam Punta del Este e José Ignacio, na costa uruguaia – distância pequena, mas suficiente para antagonizar os dois destinos.
Se o primeiro grita, alardeando cassinos, shopping, burburinho e festas, o segundo sussurra o chamado luxo discreto, aquele quase camuflado sob a simplicidade aparente nos hotéis de atmosfera rústica e restaurantes meticulosamente informais com pé na areia.
Ainda assim, dada a proximidade, visitar os dois balneários na mesma viagem é algo incontornável, a despeito de qual seja a sua praia: o agito ou o sossego. Até pouco tempo atrás, o trajeto ligando Punta a José Ignacio era feito pela Ruta 9, mais longo, com 50 quilômetros a percorrer. Quem optasse por seguir pela Ruta 10 – a bela estrada que contorna parte da costa uruguaia –, tinha que, obrigatoriamente, fazer a travessia da laguna Garzón por meio de balsas que levavam apenas dois carros por vez. Mas desde dezembro de 2015 o trajeto duplicado entre os dois destinos pode ser feito em cerca de 30 minutos pela Ruta 10, sem balsa, graças à construção da ponte laguna Negra, que, sozinha, é um cartão-postal.
Cambará do Sul, a 200 quilômetros de Porto Alegre, é a porta de entrada para vários desses desfiladeiros situados nos parques nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral. São José dos Ausentes, a 50 quilômetros dali, serve de base para outra série de abismos, que parecem cortados a faca, de tão vertiginosos. São José é uma cidade de apenas 3.300 habitantes, ainda mais perdida no mapa, mais alta que a sua vizinha, mais profundamente gaúcha e mais fria – é uma das poucas cidades brasileiras que não se surpreendem com a neve. E é pra lá que vamos.
Os cânions de São José dos Ausentes ficam um pouco distantes da cidade, o que significa que você terá de cruzar algumas fazendas – e abrir porteiras – para chegar até eles. Todos valem a visita, principalmente quando se tem à mão um Mitsubishi 4×4, que não estranha caminhos.
Comece pelo cânion Monte Negro, a 42 quilômetros do centro de São José dos Ausentes, que fica ao lado do pico de mesmo nome, que é o mais alto do estado, com 1.403 metros. Se a neblina atrapalhar a vista (ela pode subir a serra subitamente), tenha paciência e espere. Ou volte outra hora. Não vai se arrepender. Só com tempo bom você poderá ter ideia da real dimensão desse precipício – cuja borda se estende por quase um quilômetro – e ver até um pedacinho do litoral lá de cima. Se tiver pique, arrisque a subida ao topo do monte Negro para ter uma foto ainda mais ampla.
Para não ficar preso a horários, providencie lanches e bebidas para passar o dia. Caso dê sorte e encerre o passeio ao monte Negro ainda pela manhã, você pode almoçar na pousada Monte Negro, que fica perto. Num caso ou no outro, vá conhecer depois o Desnível de Rios, um curioso local onde os rios Silveira e Divisa correm a poucos metros um do outro, mas com uma diferença de altura de 18 metros. Você não precisa embarcar numa excursão para chegar até lá, uma vez que tem seu próprio 4×4 para vencer o acesso ruim. O cachoeirão dos Rodrigues, de pouca água mas muita largura, também pode ser visitado no mesmo dia.
O Amola Faca, como o nome sugere, é outro cânion cortado com capricho pela natureza. Pouca gente o visita, porque o acesso é intransponível para carros de passeio e mal sinalizado. Para não se perder, informe-se bem sobre o caminho ou contrate um guia – basta levantar um dedo que eles aparecem. Fica a 33 quilômetros do Centro, sendo que o quilômetro final tem de ser feito a pé.
O terceiro cânion imperdível é o Boa Vista, com acesso controlado pela pousada Ecológica dos Cânions, onde você poderá combinar de almoçar mais tarde, se quiser. Paga-se pouco para entrar na área, que tem duas cachoeiras bem altas, a Boa Vista, que despenca de 310 metros de altura, e a Diagonal, de 260 metros.
Caso você fique mais de três dias na região, tem ainda um monte de cânions que podem ser visitados: o do Tabuleiro, Realengo, Coxilha, da Cruzinha e Pedra da Catedral. Você pode aproveitar também para fazer uma cavalgada – as pousadas locais alugam cavalos para passeios de algumas horas e a agência Campofora (campofora.com.br) organiza roteiros mais longos, de dois a dez dias, reservados com antecedência. Se quiser curtir um fogo de chão e, eventualmente, ver neve, faça a viagem entre junho e agosto. Para aproveitar os banhos de cachoeira, venha no verão. Mas no ano todo será bem-vindo.
Os restaurantes da região funcionam com serviço de bufê dentro das principais pousadas, que ficam na zona rural. No centro de São José dos Ausentes há apenas uma churrascaria singela, a Charqueadas, e lanchonetes.
A pousada Monte Negro, na estrada do Monte Velho, no distrito de Silveira, tem as melhores acomodações da região, com destaque para sua suíte “Super Luxo”, com lareira e banheira. Entre os produtos caseiros estão a linguiça com pinhão, o queijo serrano e vários licores e compotas.
CONHEÇA A POUSADA MONTE NEGROA pousada Fazenda Potreirinhos, na estrada Fazenda Potreirinhos, tem acomodações simples, mas confortáveis. Prepara trutas saborosas e um farto café colonial.
CONHEÇA A FAZENDA POTREIRINHOSA Pousada Fazenda Aparados da Serra é vizinha da Monte Negro, na mesma estrada.
Outra opção no distrito de Silveira é a Pousada Altos da Serra. O carreteiro de charque é uma boa pedida no restaurante anexo.
A Pousada Ecológica dos Cânions fica na estrada do Chapadão, também em Silveira, no caminho para o cânion Boa Vista.
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